terça-feira, 6 de janeiro de 2015

2015 começando . . .

O ôba , ôba , vai passando . . . A ficha vai caindo . . . Mais um ano de nossas vidas se passou . . . O que fizemos dele ? Do que nos orgulhamos ? Do que nos arrependemos ? Importante é que um novinho está começando . . . Nunca é tarde para recomeços . Pior que errar , é não querer mudar . . . Ainda bem que recomeço não tem hora marcada . . . Não perca tempo lamentando o que perdeu , sejam oportunidades , pessoas ou bens ,foque em lutar por aquilo que ainda possa conquistar . . . Uma coisa é certa , aquele que não luta pelo futuro que quer ter , tem que aceitar o futuro como ele vier . Porque a vida é feita de escolhas . Quando você dá um passo à frente , inevitavelmente , algumas coisas ficarão para trás . Já dizia Buda : "A lei da mente é implacável . O que você pensa , você cria ; O que você sente , você atrai ; O que você acredita , torna-se realidade ." Concluindo . . . O tempo não volta . O que volta é a vontade de voltar no tempo . Então , faça sua vida valer a pena . Carmen Marina Sande Psicóloga clínica

terça-feira, 1 de abril de 2014

Príncipes e Princesas

Por que será que tratam algumas pessoas , principalmente, crianças , como "príncipe ou princesa "? Nem nos contos de Fadas eles se dão bem . Princesas são invejadas , sofrem o tempo todo e só são felizes no final , por serem "salvas" pelo príncipe . Nenhum mérito próprio , sempre subjugadas por figuras do mal . E quem é o príncipe ? Nasceu rico e poderoso porque é filho de reis , terá um castelo herdado . Passa o tempo se divertindo caçando , o que nos dias de hoje é politicamente incorreto , cercado de amigos desocupados e brincalhões como ele . Logo , no príncipe também não se encontra mérito nem nada que o dignifique ! Isso na ficção e não percebo nada para servir de exemplo ou inspirador ! Passemos à vida real , de realidade , não de realeza .Como vivem príncipes e princesas ? Têm suas vidas regidas por protocolos e estatutos . Vigiados constantemente e sendo julgados pelos súditos e o povo do mundo ! É uma fama cara e limitadora . Não me vem à memória uma única princesa como exemplo de felicidade . Muito pelo contrário . Lembrando da carismática lady Di , Diana , casada com toda pompa e circunstância com o príncipe de Gales , Charles . Alguém sentiu felicidade no seu rosto , até o trágico final ? E o príncipe Charles , apaixonado desde sempre pela feiosa Camilla e sendo obrigado por obrigações da realeza a casar com a jovenzinha que se encaixaria na função de princesa e futura rainha . Foi feliz ? Só nas traições que era condenado a cometer . Vamos ver se no Oriente a realeza era mais feliz . Na China , como era a vida confinada dos Imperadores e suas famílias ? Criados desde o nascimento dentro das obrigações que sua função exigia . E no passado , quantas famílias reais foram dizimadas ? Rússia e França têm tragédias bem conhecidas . E na Inglaterra é bem conhecida a história das figuras exiladas , enclausuradas e assassinadas . Fiz uma rápida e resumida viagem sobre as vidas nada inspiradoras de príncipes e princesas . E agora volto à questão inicial , qual o significado de se chamar uma menina ou um menino com esses títulos de princesa e príncipe ?

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

PRISIONEIROS do PASSADO

Pacientes chegam ao consultório sofridos por dores do passado . Sentem-se incapazes de seguir com suas vidas , já que se perderam de si próprios em algum momento no passado .É como se estivessem andando de costas . Não podem enxergar à frente já que seus olhos só olham o que passou . Sensação terrível de total insegurança . Falta de expectativas . Na REVISTA O GLOBO , o psicanalista Alberto Goldin fala sobre esse assunto com muita clareza : " o passado prende por dois motivos opostos , muita gratificação ou enorme frustração . A primeira é compreensível. Ser amado dá segurança , paz e alegria . Porém , a frustração , quando é intensa também prende . É difícil de entender , mas quem está habituado a ler os paradoxos do inconsciente sabe que as vítimas escolhem cuidadosamente seus algozes e resistem a perdê-los . É verdade que essa atitude é contrária ao bom senso . Entretanto , também sabemos que as pessoas nem sempre fazem o que convém ." Para quem observa de fora é fácil perceber as inúmeras possibilidades que vão surgindo , mas o que só olha para trás fica impedido de vê-las . Desmotivado , inseguro e desesperançado não vê o presente e se condena a um futuro pior ainda . Sofre , sem acreditar em mudança para melhor e perde o prazer de viver . A saída está e sempre esteve ao seu alcance . Basta mudar de atitude e se voltar para frente . Vai ver onde pisa e escolher o melhor caminho . Sabendo onde pisa o caminhar é seguro . E o horizonte descortinado convida a outros prazeres . A mudança é fácil ? Não , mas é possível e vale a pena !
Carmen Marina Sande
 

terça-feira, 29 de novembro de 2011

A LAGOSTA e as crises de crescimento

A Lagosta e as crises de crescimento

Por vezes , meus pacientes chegam com queixa de que estão  desorientados , desanimados , de baixo - astral , desesperançados e ansiosos . Sentem que tudo vai mal e que parece que estão fazendo tudo errado , não havendo possibilidades de mudar isso  por  estarem  despreparados  para  o  que  parece  estar  por  vir  .
Estão surpresos por esse não ser seu comportamento habitual e , ao mesmo tempo , não conseguem imaginar o que possa ter desencadeado essa crise .
Pensam logo em depressão ou ataque de pânico .
Costumo fazer uma comparação que li , anos atrás , num livro da José Olimpio Editora , cujo nome , se não me engano , era "Crises " , ou talvez , "Fases" .
A autora era uma psicóloga americana ( ou inglesa ) , que havia feito uma pesquisa para provar que temos crises de crescimento durante toda a nossa vida . Fazia , para ilustrar , uma comparação com o crescimento da lagosta .
Peço perdão pelas informações imprecisas sobre o livro . Eu o emprestei e nunca mais me foi devolvido .O pior é não lembrar a quem emprestei !
Dizia ela , que as etapas de desenvolvimento eram estudadas até o final da adolescência , como se a evolução do ser humano se encerrasse com a entrada na idade adulta . O que ela considerava um erro .

Concordo plenamente com isso . Gosto de pensar que os seres humanos normais , só param de evoluir com a morte .

A lagosta é o maior invertebrado do mundo . Com a sua dura carapaça , ou exoesqueleto , movimenta-se confiante sem ser ameaçada por predadores naturais .
Ela desconhece o risco que corre vindo dos humanos que tanto apreciam sua carne !
Mas a lagosta nasce pequena e para que seu corpo possa se expandir , é necessário que sua carapaça se quebre . Seu corpo cresce e se a carapaça não se romper , ela morrerá sufocada . Seu corpo macio fica exposto aos predadores e vulnerável . Ao se livrar da prisão da carapaça ela faz sua primeira refeição . Se alimenta da própria casca que vai doar sais minerais para suprir as energias perdidas e fortalecer sua próxima carapaça . Cuidadosamente ela enterra as antigas evidências da casca protetora para que os predadores não saibam que se encontra desprotegida .
Nesses períodos ela fica amedrontada , assustada e não sai da toca onde se refugia . Está sem a sua proteção natural e privada da estrutura que lhe garante a segurança .
É uma situação ameaçadora , fora da tranqüilidade de sua vida habitual .
A mudança e o novo a fragilizam ! E fica assim até que se crie outra carapaça adequada ao seu novo tamanho . Então retoma sua vida normal , sentindo-se segura e protegida outra vez .
Essas etapas acontecem algumas vezes até que ela atinja seu tamanho final .
Em todas elas a lagosta vive esse sofrimento de medo e insegurança .
Mas não há outra forma de crescer .

O mesmo acontece conosco , seres humanos . Durante nossas vidas temos que ir nos adaptando às mudanças trazidas pela aprendizagem de novas experiências e do nosso contato com outros humanos . Estamos sempre aprendendo e crescendo . Ou melhor , deveríamos !
São muitas as fases sofridas de insegurança em nossa vida , causadas pelo aprendizado e pelas modificações que o acompanham . Mas isso é viver e aprender .
Todas as nossas certezas são postas em dúvida . O caminho conhecido trilhado até então , parece que não nos serve mais .
Perdemos nossas referências . Como se diz : "Perdemos o chão ."
É uma época de medo , insegurança e desamparo .
Ficamos deprimidos , "fechamos para balanço" , isolados em nossa "toca" , porque o mundo se torna assustador .
O que mais apavora é que não nos reconhecemos e não sabemos o que está acontecendo conosco , nem porquê .
Não identificamos que estão se abrindo novas portas , novas possibilidades para a nova pessoa que está nascendo em nós .
Ficamos cegos e paralisados frente às mudanças .
Mas só se cresce passando por esse processo doloroso . Quebrando as estruturas para criar novas .

Como a lagosta ao quebrarmos nossos paradigmas , nossos conceitos e preconceitos , perdemos nossas certezas e nosso raciocínio envereda por caminhos desconhecidos , calcados em novidades , por isso assustadores .

Mas , como a lagosta devemos nos alimentar das experiências já vividas , digerir a vida conhecida até então e dai , nos fortalecermos para as novas estruturas que virão .

Nossa fragilidade deve ser disfarçada , escondida para nos protegermos de pessoas que se aproximam e se aproveitam de nossas fraquezas nesse momento .
As pessoas que tentam ignorar suas crises de crescimento , como forma de proteção da dor , vivem uma vida estagnada . Se castram por medo de viver !
Quem não tem crises já morreu e não sabe .
Ao nos conhecermos melhor , iremos entender esse processo e aguardar , sem angústia que ele se complete . É o nosso aperfeiçoamento em evolução !
Espero que após essa leitura vocês pensem como eu :

" Que venham as crises , estou pronto para aproveitá-las . "

Carmen Marina Sande

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O CHORO

Visão  dentro  da  Fisiologia
O  choro , pranto ou  ato  de  chorar  e  lacrimejar  é  um  efeito  fisiológico  dos  seres  humanos , que  consiste na  produção  em  grande  quantidade  de  lágrimas  dos  olhos , geralmente  quando  estão  em  estado  emocional  alterado  como  em  casos  de  medo , tristeza , depressão , dor , saudade , alegria  exagerada , raiva , aflição , etc. . . .
Processo  fisiológico : O  sistema  límbico , sistema  do  cérebro  responsável  pelos  sentimentos , associa  um  estímulo  emotivo  com  aqueles  que  já  temos  guardados , gerando  algumas  respostas , sendo  que  uma  delas  é  o  choro .

O  choro  acontece  com  freqüência  nas  sessões  de  terapia .
Resolvi  esclarecer  suas  causas  para  ajudar  meu  paciente  a  entender  melhor  o  que  se  passa  com  ele .
Ao  nascer  é  o  choro  que  anuncia : Cheguei ! Estou  vivo ! Cuidem  de  mim !
Estamos  biologicamente  programados  para  reagir  ao  sinal  de  alarme  que  é  o  choro  de  um  bebê . E  os  bebês  são  capazes  de  se  comunicar  à  partir  do  momento  em  que  nascem .
O  recém - nascido  afeta  o  meio  que  o  rodeia , tanto  quanto  é  influenciado  por  ele .
Muito  cedo  um  bebê  percebe  o  controle  que  exerce  através  do  seu  choro . Consegue  alimento , conforto , carinho , colo  e  a  satisfação  de  outras  necessidades .
O  choro  é  entendido  pelos  que  rodeiam  a  criança  como  um  sinal  ao  qual  respondem , permitindo  uma  experiência  de  situação  resolvida , aliviando  a  tensão .
Vê-se  no  choro  e  na  sua  resposta  positiva  e  adequada  por  parte  da  mãe , a  raiz  do  relacionamento  e  da  comunicação  da  criança  . Se  a  mãe  e  os  outros  que  cuidam  dela  respondem  prontamente  ao  choro , este  se  tornará  uma  forma  confiável  utilizada  pela  criança  para  expressar  suas  necessidades .
Resta  entender  o  porque  do  choro  permanecer  tão  presente  na  vida  dos  adultos  também .
Continua  sendo  uma  maneira  confiável  de  atrair  atenção ?
É  uma  volta  ao  desamparo  infantil ?
É , ainda , a  melhor  maneira  de  denunciar  suas  necessidades ?

Carmen Marina Sande
Psicóloga  Clínica

domingo, 25 de setembro de 2011

VOCÊ SE CONHECE ?

Quando  em  consulta  meus  pacientes  falam  com  desenvoltura  e  fluência  sobre  outras  pessoas , pais , namorado , irmão , filho . . .  Descrevem  como  essas  pessoas  agem  e  o  que  as  move  a  isso . Conhecem  o  encaminhamento  do  raciocínio  e  sabem  perfeitamente  como  essas  pessoas  pensam .
É  comum  mães  falarem  por  seus  filhos , tentando  traduzi-los  para  o  mundo  como  se  isso  não  pudesse  acontecer  normalmente  sem  a  sua  ajuda .
Essa  sabedoria  profunda  desaparece  como  por  encanto  quando  peço  que  falem  de  sí  próprios . Ai  começam  os  grandes  silêncios , o  riso  nervoso , a  declaração  de  que  isso  é  muito  difícil , pausas  constrangedoras .
Sabem  tudo   sobre  o  outro  e  nada  sobre  si  mesmos !
Desde  cedo  somos  educados  acreditando  que  pensar  em  nós  mesmos  é  egoísmo . Somos  educados  para  entender  e  respeitar  o  que  os  adultos  esperam  de  nós . Devemos  obedecer  aos  pais , aos  parentes , aos  professores  e  mais  tarde  ao  "chefe" .  Somos  preparados  para  satisfazer  as  exigências  dos  outros  e  dedicamos  nosso  tempo  à  difícil  tarefa  de  decifrá-las .
Não  temos  tempo  nem  interêsse  para  dedicar  ao  nosso  auto- conhecimento . Como  pensamos , do  que  , verdadeiramente ,  gostamos ,  por que  temos  certos  comportamentos  , são  incógnitas  para  nós  mesmos . Somos  nosso  maior  desconhecido . Sequer  sabemos  se  o  que  nos  rege  é  um  pensamento  nosso , ou  se  foi  em  nós  colocado  por  outro  e  aceitamos  sem  questioná-lo . 
Percebo  a  perplexidade  quando  se  dão  conta  dessa  realidade .
E  o  mais  grave  é  que  perpetua-se  esse  erro  na  educação  das  novas  gerações . Quando  se  pensa  educar  com  limites , mais  uma  vez  esses  limites  levam  muito  pouco  em  conta  quem  , realmente , é  o  educando  , sua  personalidade  e  suas  características  . Julga-se  com  a  própria   cabeça  o  que  imaginamos  seria  bom  para  nós  mesmos .
No  livro " A  Metafísica  dos  Tubos "  da  escritora  belga  Amélie  Nothomb  , (pags. 118  até  121)  encontrei  uma  passagem  que  muito  bem  descreve  essa  realidade . Uma  criança  pede  aos  seus  pais  um  elefante  de  pelúcia  como  presente  de  aniversário  de  três  anos . Nessa  ocasião  eles  viviam  no  Japão . Seu  pai  era  cônsul  da  Bélgica  lá .

    " Nada  como  a  intimidade  para  celebrar  meu  triunfo . No  momento  em  que  eu  recebesse 
    meu  elefante  de  pelúcia , o  dia  teria  chegado  ao  ápice  de  sua  magnificência .
       Os  pais  me  anunciaram  que  eu  receberia  o  presente  na  hora  da  merenda . Hugo  e  André 
    disseram -me  que  excepcionalmente  se  absteriam  de  me  provocar  durante  um  dia  . 
    Kashima-san  não  disse  nada .
    Passei  as  horas  seguintes  numa  impaciência  alucinada . Aquele  elefante  era  o  presente  mais  fabuloso  que  me  teriam  dado  em  toda  a  minha  vida . Eu  me  perguntava  sobre  o  comprimento  de  sua  tromba  e  o  peso  que  teria  em  meus  braços .
     Eu  chamaria  o  elefante  de  Elefante : seria  um  lindo  nome  para  um  elefante .
     Às  quatro  horas  da  tarde , chamaram-me . Cheguei  à  mesa  da  merenda  com  batimentos  cardíacos  de  oito  graus  na  escala  Richter . Não  vi  nenhum  embrulho .
     Devia  estar  escondido .
      Formalidades . Bolo . Três  velas  acesas , que  fui  soprando  para  apressar  a  coisa . Cansões .
     -- Onde  está  meu  presente ? - acabei  perguntando . Os  pais  deram  um  sorriso  finório .
     -- É  surpresa .
     Inquietação :
    -- Não  é  o  que  eu  pedi ?
    -- É  melhor  ainda !
    Melhor  que  um  paquiderme  de  pelúcia  não  era  possível . Eu  estava  pressentindo  o  pior .
    -- O  que  é ?
    Levaram-me  ao  laguinho  de  pedra  do  jardim .
    -- Olhe  na  água .
    Três  carpas  vivas  esbaldavam-se  na  água .
    A  gente  viu  que  você  adora  peixes  e  especialmente  as  carpas . E  resolvemos  te  dar  três :
    uma  para  cada  ano  . Não  é  uma  boa  idéia ?
    -- É -- respondi  com  consternada  polidez .
    -- A  primeira  é  laranja , a  segunda  é  verde  e  a  terceira  é  prateada . Não  é  lindo ?
   -- É -- disse  eu , pensando  que  era  asqueroso .
   -- Você  é  que  vai  cuidar  delas . Compramos  um  estoque  de  barras  de  arroz  compactado :  você  tem   que  cortá-las  em  pedacinhos  e  atirar  para  elas , assim . Está  contente ?
   -- Muito .
 Inferno  e  danação . Eu  teria  preferido  não  ganhar  nada .

    Não  fora  tanto  por  cortesia  que  eu  mentira . Era  porque  nenhuma  linguagem  conhecida  seria  capaz  de  sequer  chegar  perto  da  intensidade  do  meu  mau  humor , porque  nenhuma  expressão  poderia  chegar  aos  calcanhares  da  minha  decepção .
    Na  lista  infinita  das  perguntas  humanas  sem  resposta , é  preciso  incluir  esta : que  se  passa
  na  cabeça  dos  pais  bem-intencionados  quando , não  satisfeitos  em  cultivarem  idéias  inacreditáveis  sobre  seus  filhos , tomam  iniciativas  por  eles ?
    Costuma-se  perguntar  às  pessoas  o  que  queriam  ser  quando  eram  crianças . No  meu  caso , é  mais  interessante  fazer  a  pergunta  aos  meus  pais : a  sucessão  de  suas  respostas  dá  a  exata
   imagem  do  que  eu  nunca  quis  me  tornar .
   Quando  eu  tinha  três  anos , eles  proclamavam  a  "minha"  paixão  pela  criação  de  carpas . Quando  fiz  sete  anos , anunciaram  a  "minha"  decisão  solene  de  entrar  para  a  carreira  diplomática . Meus  doze  anos  viram  aumentar  sua  convicção  de  terem  como  rebento  um       líder  político . E  quando  eu  fiz  dezessete  anos  eles  declararam  que  eu  seria  a  advogada 
    da  família .
  Acontecia-me  às  vezes  de  perguntar- lhes  de  onde  tiravam  aquelas  idéias  estranhas  . Eles  respondiam  , sempre  com  a  mesma  tranqüilidade , que  "era  evidente"  e  que  "todo  mundo 
   achava ". E  quando  eu  queria  saber  quem  era  " todo  mundo " , eles  diziam :
   -- Todo  mundo , ora !
   Sua  boa  fé  não  devia  ser  contrariada .

Como  bem  descreve  a  autora , é  surpreendente  o  que  se  supõe  saber  sobre  os  outros !
E  mais  surpreendente , ainda , a  constatação  do  pouco  que  sabemos  sobre  nós  mesmos .

Carmen Marina Sande






terça-feira, 21 de junho de 2011

O ANÔNIMO

O  ser  humano  anseia  pela  ideia  de  controle .
Quer  saber  de  onde  vem , por  que , para  onde  vai , como  as  coisas  acontecem , em  que  ordem ?
É  muito  difícil  lidar  com  o  desconhecido , com  o  imponderável .
Por  vezes  recebo  em  meu  blog  comentários  de  Anônimos  que  me  deixam  desconfortável . São  palavras  inteligentes , que  complementam  e  trazem  nova  visão  ao  que  escrevi . E  eu  não  sei  de  onde  vêm  , quem  são  essas  pessoas  que  compartilharam  comigo  seus  pensamentos  e  suas  emoções , sem  que  eu  tenha  a  chance  de  trocar  ideias  enriquecedoras  com  elas .
Ou  responder  a  um  pedido  de  ajuda .
Escolhi  alguns  e  os  coloco  abaixo .

Carmen Marina Sande
Anônimo disse...

Doutora,

Belíssima abordagem.
Mas,quero comparar tua aparência física com a da *Mulher de César* (da qual se exigia não tão somente a honestidade, como tb, a aparência de honesta. Não sei se a Carmen Marina é uma boa pessoa, mas seria um desperdício de uma fisionomia tão amistosa, caso não o fosses. Parabéns pelo Blog e pelo o que transmites, via uma simples foto,
Fique Bem, Norma


Anônimo disse...

parabens Carmen pelo seus ``conselhos´´... uma pessoa que pensa que ama e ainda sofre muito por um amor a ponto de ser maltratado, humilhado,etc e passa por tudo isso e ainda tenta sempre estar salvando este ``amor´´criado, estas citações suas fazem a pessoa erguer a cabeça e olhar as coisas como elas são... tudo isso criado por nos mesmos, mas podemos reverter esta situação e eu vou conseguir pode ter certeza... abraços , fuii!!!!!!!!!!!!!!!!!!
11/16/2010

Anônimo disse...

Era casa há 10 anos e conheci uma pessoa por qual me apaixonei e deixei meu marido só após um ano.
Sei o quanto essa pessoa me ama, porém a espera do término do meu casamento o machucou muito hoje não sei o que ele sente por mim as vezes ele diz que não quer mais, eu me desespero e ele acaba voltando. O que é mais dificil deixar de amar é porque ele muitas qualidades que sempre sonhei em uma pessoa.
Preciso deixar de amar, pois até rémedio controlado para depressão estou tomando. Preciso de ajuda! Obrigada.
5/13/2011

Anônimo disse...

Eu sempre esperei q minha mulher fosse mais companheira e carinhosa mas aos poucos fui descobrindo uma mulher egoísta q só pensa em si mesma q eu tenho mais é q aceitá-la desse jeito pois é assim q ela é, mas eu acho q se ela me amasse mesmo como eu a amo(ou acho q amo pq tenho dúvidas) ela tentaria ou até mesmo mudaria seu jeito, gostaria muito de esquecê-la definitivamente mas é muito difícil, acho q estou mais acostumado com ela, do q amor o que sinto.....
6/16/2011

FRAGILIDADE = FILHOS

Quando  os  filhos  nascem , temos  a  ilusão  de  que  sempre  nos  será  possível  poupá-los  do  sofrimento .
Imaginamos  que  nossa  proteção  irá  mantê-los  a  salvo  da  dor , da  doença e  das  dificuldades .
Nos  seus  olhinhos  vemos  a  certeza  de  que  somos  a  sua  segurança .
Eles  confirmam  nossa  ideia  de  que  tudo  podemos .
E  fazemos  planos  de  vê-los  adultos  fortes  e  felizes .
Acreditamos  que  iremos  educá-los  para  as  boas  escolhas .
Com  que  cuidado  escolhemos  seu  pediatra , seu  colégio  e  o  ambiente  em  que  crescerão  cercados  de  bons  amigos .
Porém  quando  os  filhos  crescem  começa  uma  outra  realidade , até  então  impensada .  Dor  alguma  dói  tanto , quanto  a  causada  por  um  filho . Vem  a  surpresa  pela  incapacidade  de  diálogo .
Onde  foi  parar  a  confiança  mútua ?
 Ai  chega  uma  imensa  dor  pela  agressividade  verbal  ou  física , por  vê-lo  atentar  contra  si  mesmo , sem  que  nada  possamos  fazer .
Por  tentar  encaminhá-lo   para  o  que  nos  parece  melhor  e  assistir , impotentes , sua  opção  pelo  risco  de  erro .
A  maternidade  traz  muita  felicidade , mas  atrelada  a  isso , vem  a  maior  possibilidade  de  fragilidade  ,  mágoas  e  medo , que  um  ser  humano  pode  sentir .
A  sensação  de  impotência  em  ajudar  o  que  se  tem  de  mais  caro  e  importante .
Para  quem  não  me  conhece , quero  esclarecer  que  sou  mãe  de  quatro  filhos  adultos , porém   minha  experiência  não  se  baseia  apenas  na  minha  vivência , vem  também  de  situações  observadas  no  meu  consultório .
Mas  como  todas  as  mães  são , também ,  filhas  e  devem  ter  causado alguma  frustração  às  suas  mães , o  jogo  acaba  empatado !
Carmen Marina Sande 

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

SOBRE A MORTE

Venho trabalhando com meus pacientes a forma de suportar a ausência de pessoas queridas . É um encontro escrito desde sempre , mas para o qual nunca estamos , verdadeiramente , preparados .
Há uma pequena história que fala disso :
Um monge viajava por uma montanha gelada quando encontrou uma choupana muito pobre . Como a tarde estava por terminar , bateu à porta e pediu pousada por aquela noite . Foi muito bem recebido pela família , que dividiu com ele o pouco que tinham para comer e ofereceram as esteiras onde dormiam , para que empilhadas ficassem mais longe do chão frio e tornassem a cama do monge mais macia .
O religioso observou com que desprendimento aquela família oferecia o que de melhor possuiam .
Nessa região é comum que se pendurem papéis no teto , com orações que ficam balançando ao vento e assim chegam sempre a Deus .
Na manhã seguinte prepararam uma pequena trouxa com o pouco pão que ainda tinham para que o monge levasse .
O chefe da família pediu que o religioso lhes deixasse uma oração .
Ele escreveu :
"Que morra o avô .
Que morra o pai .
Que morra o filho ."
A família estranhou que após acolhimento tão carinhoso , o monge lhes desejasse a morte . E ele explicou :
" A morte com certeza virá . Disso não podemos fugir .
Mas se vier nessa ordem , que é a natural , vocês estarão sendo muito abençoados !"
Sábia parábola . Todos conhecemos quem tenha passado pela dor de mortes prematuras .
Mas a verdade é que aconteça de que forma for , sempre nos sentimos despreparados para enfrentar a falta , o vazio e a reformulação de vida necessária .
As pessoas nos sugerem que "sejamos fortes" .
E o que é ser forte num momento desses ?
Mascarar nossa dor , nossa desorientação ?
Temos o direito de chorar , sim .
Temos o direito de sentir medo , sim .
Temos o direito de viver esse luto .
Temos o direito de reclusão , de silêncio , para organizar o tumulto de nossos pensamentos .
Será perfeito se tivermos em torno , pessoas que respeitem esse processo .
Que o entendam como natural . Mas que sinalizem que não estamos sós .
Que estão por perto para oferecer o apoio quando for preciso .
Mas vale lembrar as palavras abaixo :


"Não importa se você está perto ou longe....
O que importa é que você existe para que
eu possa sentir saudades"


Lindas palavras que nos lembram a real importância das outras pessoas em nossa vida .
Ter de quem lembrar , ter em quem pensar traz sentido à nossa existência .
Preenche nossa solidão .
Mesmo os que existem apenas nas nossas recordações , nas nossas fotos ,
continuam aquecendo nosso coração .
Podem não estar sempre conosco .
Talvez não tenham ficado tanto quanto gostaríamos .
Mas são uma parte de nós . Fazem parte do que somos hoje .
Distância ou tempo não diminuem sua importância .
O que , realmente importa , é que existem , ou existiram . . .
E sua passagem em nossa vida deixou sua marca para sempre .
Jamais me sentirei só !

Há uma frase de Ana Jácomo que diz:
"Lembrar de você me aquece:

é feito um pé de sol que eu cultivo na memória."
http://anajacomo.blogspot.com
http://anajacomo.blogspot.com/search?q=aquece

Carmen Marina Sande
Psicóloga clínica

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Voltando ao assunto : a MENTIRA

Volto ao assunto pois ele não sai do meu consultório.
Tenho pacientes que não entendem porque recorrem à mentira em certas situações .
São pessoas sérias que se sentem desconfortáveis quando se vêem mentindo sem encontrar motivo que justifique isso .
Por mais que eu explique que a mentira faz parte da nossa vida , que é quase um mecanismo de sobrevivência , eles continuam se rotulando de "mercadoria com defeito".
Lembro do quadro da TV GLOBO , com o ator Luís Fernando Guimarães , " O super honesto" . Um homem que sempre dizia a verdade e que se tornava desagradável e até grosseiro .
A mentira social faz parte da nossa cultura . As crianças aprendem a mentir em casa , observando os próprios pais : "diz que eu não estou. . .", justificativas falsas em cadernetas do colégio , doenças para faltar aos compromissos indesejados .
Mentem sobre Papai Noel , Coelhinho da Páscoa , "criança que mexe com fogo , faz xixí na cama " , ou " festinha de aniversário em dia de jogo do Mengão ? Nem pensar . Diz que eu estou doente ."
Usa-se a mentira para fugir ao julgamento do outro .
Dizemos o que ele vai aceitar , mesmo que seja uma inverdade .
Quando se emite uma palavra , metade do seu significado pertence a quem fala , a outra metade do sentido , fica por conta de quem escuta . Logo , a verdade é sempre parcial .
Quando gostamos do outro , por vezes mentimos para nós mesmos , pois muito do que vemos nele é inventado por nós .
Muita coisa se faz por temer o julgamento do outro e pelo desejo de ser bem visto , aceito .
Ouvi outro dia numa novela : "Você mentiu por medo de me perder . Eu adorei . Quer dizer que vc , realmente me ama !"
O padre Nelson , personagem de Hilda Furacão , cita o padre Antonio Vieira :
"Há que se temer mais o juízo dos Homens do que o juízo de Deus .
Que Deus julga de acordo com o entendimento e o entendimento de Deus , encontra o que existe .
Ao passo que a vontade dos homens , e é com isso que os homens julgam , encontra o que querem encontrar .
De acordo com a vontade dos Homens , pode-se encontrar méritos em Judas e culpas em Cristo . "
Há , ainda as mentiras vistas como brincadeiras . Se todos os envolvidos estão se divertindo , tudo bem . Mas quando alguém está se sentindo mal , se sentiu enganado ou prejudicado passou a ser uma maldade .
Como fazer então ? A ética nos orienta em como agir em qualquer situação .
Mas há que haver uma certa tolerância , uma compreensão do que nos leva a certas atitudes impensadas , mas jamais visando algum dano ao outro .
Entendendo que o mesmo acontece quando a "vítima" somos nós .
Vale refletir , também , o que em nosso comportamento , inibiu o outro de nos dizer a verdade ?
Portanto a Mentira é um terreno muito duvidoso . Temos que usar o bom senso ao julgar a mentira do outro e , principalmente a nossa .

Carmen Marina Sande

Hilda Furacão , livro de Roberto Drummond .

domingo, 1 de agosto de 2010

Caminhão de Lixo

A mensagem abaixo foi encontrada na Internet .
Ilustra uma situação em que nos encontramos várias vezes no nosso dia a dia .
Interagir com pessoas de comportamento desagradável .

Provocam reações , igualmente , desagradáveis que podem desencadear uma terrível reação em cadeia .
Não dê ao outro autoridade para atrapalhar sua vida .
Defenda sua possibilidade de viver com qualidade .
Esteja atento e não colabore com quem não pode ser feliz .
Ou que talvez nem saiba mais como sê-lo .
Mau humor , agressividade , maldade , grosseria , infelicidade e desmotivação contaminam .Cautela .
Não entre nesse jogo !
Mas a recíproca é verdadeira , pessoas de bem com a vida também contaminam .
Procure estar com elas e essa troca de boas energias só irá ajudar .
Participe da construção de um mundo melhor .

Carmen Marina Sande


Lei do Caminhão de Lixo

Um dia peguei um taxi para o aeroporto. Estávamos rodando na faixa certa, quando de repente um carro preto saltou do estacionamento na nossa frente.
O taxista pisou no freio, deslizou e escapou do outro carro por um triz!
O motorista do outro carro sacudiu a cabeça e começou a gritar para nós nervosamente. Mas o taxista apenas sorriu e acenou para o cara, fazendo
um sinal de positivo. E ele o fez de maneira bastante amigavel.
Indignado lhe perguntei: 'Porque você fez isto? Este cara quase arruína o seu carro e nos manda para o hospital!'
Foi quando o motorista do taxi me ensinou o que eu agora chamo de "A Lei do Caminhão de Lixo."
Ele explicou que muitas pessoas são como caminhões de lixo. Andam por ai carregadas de lixo, cheias de frustrações, cheias de raiva, traumas e de desapontamento. À medida que suas pilhas de lixo crescem, elas precisam de um lugar para descarregar, e às vezes descarregam sobre a gente. Não tome isso pessoalmente. Isto não é problema seu!
Apenas sorria, acene, deseje-lhes o bem, e vá em frente. Não pegue o lixo de tais pessoas e nem o espalhe sobre outras pessoas no trabalho, em casa, ou nas ruas. Fique tranquilo... respire e deixe o lixeiro passar .
O princípio disso é que pessoas felizes não deixam os caminhões de lixo estragarem o seu dia. A vida é muito curta, não carregue lixo.
Limpe os sentimentos ruins, aborrecimentos do trabalho, picuinhas pessoais, ódio e frustações.
Ame as pessoas que te tratam bem.

E trate bem as que não o fazem.

terça-feira, 18 de maio de 2010

DE ONDE VEM NOSSA CERTEZA ?

Ouvindo as críticas de uma paciente a respeito da educação que seus filhos estão dando aos próprios filhos , seus netos , formulei uma simples pergunta :
"A educação que vc deu a eles , teve o resultado desejado ?"
Com os filhos já adultos , que é o caso dela , é fácil avaliar se os objetivos foram alcançados .
Como ela está há algum tempo em terapia , eu já conhecia a resposta .
Após refletir , respondeu que não .
Tinha certeza que ao educá-los com rigor em alguns momentos , ou colocando-os como o centro de sua vida familiar , teria filhos adultos completamente diferentes dos que tem agora .
Isso sempre chama a minha atenção .
Por que o ser humano tende a ensinar ao outro como viver , quando ele próprio não conseguiu alcançar suas metas ?
Claro que num consultório é de se esperar que as pessoas tenham suas queixas . Até aí , tudo bem .
E pasmem , são essas pessoas queixosas que me trazem brigas por se sentirem em condições de darem palpites , na maioria das vezes não pedidos .
Mas essa não é a realidade que encontro apenas no consultório . Em conversas com amigos ou conhecidos é fácil perceber a insatisfação com o rumo de suas vidas .
Raramente se ouve alguém se afirmar feliz e realizado . Na maioria das vezes se dizem injustiçados , não reconhecidos em seus esforços , incompreendidos , prejudicados , sabotados , e por ai vão . . .
Mesmo com esses péssimos resultados , se arvoram a orientadores para o bem viver .
Baseados em que ? No "faça o que eu digo , mas não faça o que eu faço ?"
Na verdade é mais fácil fazer sugestões de comportamento ao outro do que prestar atenção à propria vida .
É mais fácil orientar mudanças ao outro do que mudar a própria vida .
Vale pensar cuidadosamente nisso .
Sua responsabilidade é viver melhor e melhorar a qualidade de vida de quem convive com vc .
Faça , sim , de seu exemplo de vida um ótimo conselho .

Carmen Marina Sande

segunda-feira, 1 de março de 2010

PASSA TEMPO



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PASSA-TEMPO

Numa época em que todos reclamam de como o tempo está passando cada vez mais rápido e que nos falta tempo para coisas prazerosas como um encontro com amigos ou uma visita a um parente mais velho , ou ainda , conhecer um bebê que nasceu , me surpreendo ao perceber o tempo que se joga fora com joguinhos que isolam o participante do mundo ao seu redor .

Hoje minha neta Manuela (11anos) me contou que ela e o irmão Maximiliano(12 anos) , ganharam um I TOUCH . Explicou que não era um celular , era um aparelho que com o toque do dedo na tela oferece diferentes formas de se distrair .

No período de final de 2009 em que nossos 4 netos estiveram várias vezes juntos em nossa casa , pude observar quanto tempo se submetem às suas máquinas . Se revesam nos laptops e em outras novidades tecnológicas .
E nem pretendo mencionar adultos que se encantam plantando ou colhendo em suas fazendas virtuais e sendo controlados por horários do jogo para não ter prejuízos ! Outros consultam a entrada de e-mails em seus celulares , lêem , respondem . . .

Famílias reunidas em que todos estão isolados em suas atividades . Não há trocas . Desapareceu o prazer da conversa . O outro presente não tem mais importância suficiente para roubar a atenção dedicada às máquinas . Não mais há tempo para que se passe a tradição das histórias familiares . Quantos valores serão perdidos , ignorados .

Lembrei dos passeios que fazíamos quando era criança . Ir de carro visitar alguém era um passeio .Lembro como gostava de ver os chafarízes coloridos da Praça Paris ou as esculturas de areia iluminadas em frente ao Copacabana Palace .
Comer fora era um prazer . Tudo era um evento !
Iamos no banco detrás do carro olhando a paisagem , ouvindo meus pais cantando , acenando para pessoas de outros carros que também acenavam para nós . Era comum as pessoas sorrirem umas para as outras e brincar com crianças desconhecidas .Lembro que ia olhando tudo com curiosidade e interesse . Fazia perguntas e meus pais explicavam do que se tratava . Passear de carro era um prazer .
Viajar , então , nem se fala ! Ver a mudança de paisagem , a cidade virando campo , os cheiros mudando , animais , casebres , rios , as próprias pessoas , os ruídos , tudo aguçava a minha curiosidade .

Hoje as crianças viajam assistindo DVDs , ou jogando , sem tomar conhecimento do mundo que se desenrola à sua volta . Em qualquer lugar têm as mesmas experiências tecnológicas .

Quanto mais ganhamos ajuda para não perder tempo , mais estamos jogando nosso tempo fora .
Pensei nisso e fiquei triste .
Por que esse mundo virtual ficou mais interessante que o real ?



Carmen Marina Sande

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A MENINA DOS FÓSFOROS

Nesse momento em que se discutem leis sobre o uso de drogas , achei oportuno apresentar um trecho do livro " DOCES VENENOS " , de Lidia Rosemberg Aratangy .
É um dos textos mais delicados que conheço para explicar essa dolorosa relação entre a droga e quem a consome , ou melhor , é consumido por ela .
Fui motivada também pela entrevista de Fábio Assunção , contando sobre sua luta para vencer o vício que tantos prejuízos vem causando à sua carreira de consagrado astro de televisão e cinema . Difícil imaginar como um jovem homem , bonito , rico , com um filho de 6 anos , vitorioso em sua carreira , amado por milhões de fãs , se envolve num problema com conseqüências tão desastrosas . Disse ele que justificou para o filho que iria para uma clínica para aprender a dormir , acordar e comer na hora certa . A droga desorganiza o que de mais simples e básico constitui a rotina de um ser humano .
Eu falo com conhecimento de causa , não só porque trabalho com pessoas que sofrem com os danos causados pelas drogas , mas por ser , eu mesma , uma dependente química . . . de açúcar . Faz tempo que tenho minha glicose perigosamente alterada . Sei perfeitamente dos riscos de uma alimentação inadequada . Juro freqüentemente para mim mesma e para os que amo e me amam , que vou me manter longe de doces , pães e massas .Penso no mau exemplo que estou dando para filhos , netos , amigos e pacientes . Com certeza nesse momento estou convencida de que devo e posso cumprir a promessa . Mas , há sempre um mas , passados alguns dias me pego pedindo ao meu marido que me traga "alguma coisa gostosa " da rua . E eu traio desavergonhadamente a minha promessa e a minha saúde . Sei , ah , como sei , como meu cérebro me induz a satisfazer seu vício . As moléculas que compõem o açúcar e o álcool são as mesmas . E eu penso " se vou a uma festa no sábado , vou sair da dieta , por que não aproveitar desde a quinta-feira ? " Essa idéia inunda meu momento de felicidade . De outra feita , trago uma abóbora do sítio , e mesmo dividindo com outras pessoas ,ainda sobra um grande pedaço . Penso logo que além de usá-la em pratos salgados , vale fazer um doce de abóbora , que depois de dado o ponto , conserva-se muito mais . Por que me preocupar com sua preservação quando sei que vou consumí-lo rapidamente ?
Como podem ver conheço e uso várias formas de sabotar meus objetivos .Isso me faz lidar com outra compreenção com sentimentos tão familiares a mim . É mais fácil enfrentar um inimigo conhecido . Há mais chances de vitória .
Nem por um momento sugiro que será fácil , apenas aumentam as possibilidades de um final feliz .

Carmen Marina Sande


A MENINA DOS FÓSFOROS

Era véspera de Ano Novo, e a menina (tão pequena, coitadinha!) que vendia fósforos estava com muito frio e com muita fome. Seu estoque de fósforos coloridos estava intacto, ninguém tinha comprado nada. Ainda por cima, ela tinha perdido seus chinelos na neve e seus pezinhos estavam enregelados.

Ela sabia que não podia voltar para casa , pois tinha certeza de que iria levar a maior surra do pai , com quem vivia sozinha , desde a morte da mãe . Ele batia nela constantemente e contava com o dinheiro da venda dos fósforos para comprar comida e bebida . A menina não podia chegar de mãos vazias .

O frio aumentou e ela resolveu acender um só dos fósforos coloridos , para se aquecer um pouco .

A pequena chama azulada trouxe mais do que um pouco de calor . Na luz bruxuleante do fósforo , seus olhinhos chorosos vislumbraram um fogareiro de ferro , onde a lenha crepitava e esquentava tanto , tanto , que ela estendeu também os seus pezinhos , para que se aquecessem .

Mas , muito depressa , a chama se extinguiu , o fogareiro desapareceu , e a menina se viu sentada no mesmo lugar , no chão gelado , tendo nas mãos o resto apagado do fósforo .

A noite , no entanto , parecia agora mais escura , mais fria , mais assustadora do que antes , quando ela ainda não tinha visto a luz mágica da pequena chama colorida .

Riscou rapidamente um segundo fósforo . Desta vez , seus olhos se depararam com a visão de uma sala de jantar , com a mesa posta , tendo ao centro uma enorme travessa com um peru assado , rodeado de ameixas , uvas e maçãs .

Apagou-se o fósforo. De novo, a menina se viu no frio da noite, enregelada e faminta, diante de uma parede escura e triste, que agora lhe parecia ainda mais escura, ainda mais triste.

Mais que depressa, a menina acendeu um terceiro fósforo. Desta vez, ela se viu diante da figura carinhosa de sua mãezinha, morta há tanto tempo.

Com medo de que a imagem querida também se desvanecesse no ar, como o fogareiro, como a comida, ela se põe apressadamente a acender um fósforo atrás de outro, até queimar todo o pacote. A luz assim produzida tinha uma claridade mais brilhante do que o dia, seu calor parecia mais quente do que o Sol.

E a um aceno sorridente de sua mãe, a menina deixou-se conduzir, segurando com suas mãozinhas frias as mãos quentes e macias que sua mãezinha lhe estendia. Seguiu-a, em direção às mais brilhantes estrelas do firmamento.

Quando clareou a fria manhã do Ano Novo, os passantes encontraram a menina sentada no chão, cercada pelos restos de fósforos queimados. Com as faces arroxeadas, ainda com um sorriso nos lábios. Morta de frio.

- Quis aquecer-se, coitadinha! disse alguém, ao passar.

Muitas vezes, a realidade em que a gente vive é tão ruim, tão feia e tão triste, que dá vontade de escapar dela, mesmo, a qualquer preço.

O problema é que, em geral, as drogas fazem com que as pessoas acabem se esquecendo de que havia uma realidade da qual queriam fugir - e as pessoas passam a acreditar que não foram elas que fugiram, mas que foi a realidade que mudou. Isto é, acabam acreditando que conseguiram provocar alguma mudança no mundo e resolver algum problema, quando o que conseguiram foi apenas colocar uma espécie de lente para mudar o seu jeito de ver o mundo que continua tão ruim, tão feio e tão triste como antes. Só que mais perigoso.

Essa espécie de sinal de realidade , essa capacidade de distinguir entre o real e o imaginário - que se perde com a droga - é um dos mecanismos responsáveis pela sobrevivência humana .

Trecho do livro DOCES VENENOS de Lidia Aratangy

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

NOSSA RELAÇÃO COM O DINHEIRO

Uma das maiores dificuldades que surgem em meu consultório é a relação com o dinheiro . Falta de controle , excesso de controle , ter muito , a falta e outras situações que sempre geram muito sofrimento .

“ Por causa dele muitos já mataram e morreram , guerras foram deflagradas e famílias destroçadas .Noites de sono foram perdidas , casais separados , amigos traídos e houve , até os que decidiram pôr fim à própria vida quando se viram sem ele . O fato é que o dinheiro não é , nem de longe , apenas uma “ferramenta” que facilita as trocas e , conseqüentemente , a sobrevivência humana . Em vez disso , assume inúmeras representações , mobiliza associações , sistemas de crenças , valores , afeta emoções , aciona sistemas defensivos e obedece a dinâmicas com lógicas próprias e complexas .” ( Revista Mente e Cérebro )

De fato , são inúmeros os problemas com essa origem que procuramos solucionar em sessões de terapia .
O dinheiro como prova de amor é a mais freqüente .
$ Deu um presente mais caro para ele do que deu para mim ( gosta mais dele ).
$ Se preocupa mais em aumentar a pensão da ex –mulher do que com o que está faltando na nossa casa (gosta mais da ex que de mim ) .
$ Os filhos da outra sempre estudaram em colégios caros , pros nossos , qualquer coisa serve ( gosta mais dos outros filhos ) .
$ Pagou faculdade particular para o meu irmão . Eu tive que fazer vestibular um montão de vezes , até entrar numa pública .
$ Sempre deu mesada maior para eles do que para mim .
$ Enquanto a outra família ficou com um casarão , nós vivemos apertados nesse apartamento .
$ Pra ele sempre carro do ano . Meu carro só troca quando cai de podre .
Outra situação dolorosa é a que tira a auto-estima da pessoa pela perda em sua situação financeira . Pessoas bem empregadas , com farta rede de amigos , bem consideradas , convidadas para eventos , de um momento para outro sentem-se ( com motivo , ou não ) , esquecidas por perderem seu emprego . Deixaram de ser simpáticas ? Perderam suas qualidades ? Por que então as pessoas se referem a elas como : “ Coitada ! Perdeu o emprego. “ Seu dinheiro pode diminuir , mas continua com o corpo são , com sua potencialidade , seu caráter , logo , é a mesma pessoa ! Coitada por que ?

“Mais tarde , a pessoa perceberá que o dinheiro ganho , oferecido ou negado , bem ou mal usado , tem efeito muito parecido : surte efeito sobre si , sobre o outro , envolve confiança , investimentos afetivos , pauta relacionamentos e determina os lugares que os sujeitos ocupam nos diferentes grupos , funciona como recurso de interação cultural , habilitando as pessoas a obter o que desejam . E , em muitos casos , transforma-se em um ícone de felicidade .” (Mente e Cérebro )

Ou não , porque a recíproca também é verdadeira .
O dinheiro gera a dúvida sobre a qualidade das relações . “Gosta de mim ou do meu dinheiro ?”
E o medo . E o isolamento : “Tenho que investigar muito bem quem trago em casa , porque posso estar colocando em risco nossa segurança . “
“ Meus filhos só saem com seguranças e não vão a festinhas de amiguinhos nem a passeios de colégio . Tenho pavor de seqüestro . E nunca se sabe quem pode ser uma ameaça !”
Ao invés de proporcionar a liberdade de viver tudo que se deseja , pode ser transformado em uma prisão .

“ São essas intrincadas relações que a psicologia econômica e a neuroeconomia têm se dedicado a investigar nos últimos anos . Os cientistas já depararam com conclusões curiosas . Uma delas é que o valor do dinheiro é relativo : as pessoas costumam se mobilizar para receber o troco correto de R$ 5,00 quando compram algo de R$ 15,00 , por exemplo , mas dificilmente se importarão em perder exatamente a mesma quantia na transação de um imóvel de R$ 200 mil . Os R$ 5,00 são os mesmos , mas em variados contextos parecem adquirir valor diferente . Outro achado : a frustração de perder dinheiro é processada na mesma área cerebral da dor física , o que leva a crer que ser privado de bens materiais pode doer literalmente .
Mais ainda : temos orgulho de nossos bens e vendê-los implica , quase sempre , um pequeno luto . Porém , se produtos são adquiridos para ser comercializados ( como faz o proprietário de uma loja ) eles deixam de ter esse “efeito de dotação” , como chamam os pesquisadores . As peculiaridades são inúmeras . E , em tempos de crise , compreender melhor nossas relações subjetivas com o “ vil metal “ – e até fazer as pazes com ele – pode ser lucrativo “. ( Mente e Cérebro )

É comum se ouvir a frase : “doer no bolso “. Esse texto nos esclarece um pouco da razão dessa dor .
Tudo que passamos a entender a nosso respeito vai facilitar na compreensão de nossos comportamentos e na compreensão da maneira de agir dos outros .
São armas conquistadas para a luta que travamos por uma vida melhor .

Carmen Marina Sande

segunda-feira, 13 de julho de 2009

AMIZADE


Dirigindo um calhambeque azul, Roberto Carlos chegou ao palco do Maracanã, na noite de sábado (11/7/2009), para comemorar seus 50 anos de carreira, rodeado de cerca de 60 mil fãs no estádio.

''Esta é a maior emoção da minha vida'', comentou. ''Tudo isso parece um sonho, mas se eu estiver sonhando, por favor, não me acordem'', disse, antes de cantar os maiores sucessos de sua carreira, entre eles Eu te Amo, Emoções, O Calhambeque, Detalhes e Lady Laura.

O show contou com a participação de seus grandes amigos da Jovem Guarda, Wanderléa e Erasmo Carlos. O Rei chegou a chorar enquanto cantava a canção Amigo ao lado do Tremendão, e declarou: ''Eu adoro os meus irmãos, mas você é o irmão que eu escolhi, quando já era mais grandinho''.

Muito se falou , muito se fala e muito ainda se falará sobre Amizade .


Ontem quase às 18 h passamos em frente ao Estádio do Maracanã , onde se realizaria o show . Chamou nossa atenção o número de pessoas idosas aguardando nas filas a abertura dos portões para a entrada do público . Alguns com bengalas e andadores . Estavam ali prontos para demonstrar sua devoção ao artista que amam e que chamam de Rei . Superando seus limites e dificuldades seja pela idade , seja pela saúde . Nada os deteria nessa prova inequívoca de carinho .


Fiquei imaginando como Roberto Carlos estaria se sentindo sabedor dessa realidade .


Lembrando o Pequeno Príncipe : " Tu és responsável por quem cativas . " Que responsabilidade satisfazer e retribuir todo esse carinho . Deve ficar tão emocionado que é provavel que nem consiga cantar !


Qual não foi minha surpresa ao ver um Roberto Carlos controlado , frio , desempenhando o roteiro do show , com as atitudes de carinho com o público em gestos e palavras . O sorriso simpático como sempre . Nada era traído pela emoção .


Cantou lembrando sua cidade de orígem ( Cachoeiro de Itapemirim ) , sua mãe ( Lady Laura ) , sua fé ( Nossa Senhora ) e seu grande amor perdido ( Maria Rita ) e nada o abalou . Continuava seu show sem qualquer dificuldade . Assim foi até que convidou ao palco o "meu amigo Erasmo Carlos " !


Ouve as palavras do amigo no telão e o convida a entrar . Ao vê-lo chegando a segurança se perde . Roberto Carlos desaba ao abraçar Erasmo . A tentativa de cantar se frustra frente à emoção . As lágrimas estão no rosto e na voz embargada . A canção para o amigo desnuda os dois homens , mostrando a força da amizade que os une e as dificuldades e vitórias partilhadas no decorrer de suas existências .


Ali o ídolo mostrou sua humanidade . Passou a ser uma pessoa contagiada e participante do ambiente de pura emoção que reinava .


A amizade foi mais forte que todos os outros sentimentos , capaz de derrubar o profissionalismo do artista homenageado .


Na amizade reside nossa força e nossa fraqueza !


Carmen Marina Sande